Se você busca apenas imagens e texto ligado estritamente ao BDSM, sem querer explorar os conceitos e debater algo, esse artigo não é o ideal, não perca tempo!
Há alguns anos eu tive contato com essa informação, em inglês, num debate interessante que ocorreu no exterior, o qual foi transcrito em algumas edições do New York Times, mas agora ele caiu no meu colo em português e como é um assunto que tem a ver com a mente humana, achei relevante compartilhar e colocar algumas pessoas para pensar a respeito. Não por conta da sociedade, de política ou corrupção, mas justamente por conta do comportamento humano, e nesse caso estou relacionando o tema diretamente com o que fazemos com as relações humanas a partir do descaso e abandono.
Não temos como fugir disso e provavelmente a melhor abordagem que já vi a respeito é a que diz que relações são plantas, que precisam de água e cuidados eternos. E, fazendo um paralelo com o BDSM, consegui lembrar de diversas, não uma ou duas… diversas! relações que poderiam ser frutíferas mas onde as pessoas estão tão preocupadas com o próprio umbigo que não percebem a janela trincada… e abaixo está uma compilação muito boa do que eu estou falando:
A Teoria das janelas partidas
Há alguns anos, a Universidade de Stanford (EUA), realizou uma experiência de psicologia social. Deixou duas viaturas idênticas, da mesma marca, modelo e até cor, abandonadas na via pública. Uma no Bronx, zona pobre e conflituosa de Nova York e a outra em Palo Alto, uma zona rica e tranquila da Califórnia. Duas viaturas idênticas abandonadas, dois bairros com populações muito diferentes e uma equipe de especialistas em psicologia social estudando as condutas das pessoas em cada local.
Resultou que a viatura abandonada em Bronx começou a ser vandalizada em poucas horas. Perdeu as rodas, o motor, os espelhos, o rádio, etc. Levaram tudo o que fosse aproveitável e aquilo que não puderam levar, destruíram.Contrariamente, a viatura abandonada em Palo Alto manteve-se intacta.
Mas a experiência em questão não terminou aí. Quando a viatura abandonada em Bronx já estava desfeita e a de Palo Alto estava há uma semana impecável, os pesquisadores partiram um vidro do automóvel de Palo Alto. O resultado foi que se desencadeou o mesmo processo que o de Bronx, e o roubo, a violência e o vandalismo reduziram o veículo ao mesmo estado que o do bairro pobre. Por quê que o vidro partido na viatura abandonada num bairro supostamente seguro, é capaz de disparar todo um processo delituoso? Evidentemente, não é devido à pobreza, é algo que tem que ver com a psicologia humana e com as relações sociais.
Um vidro partido numa viatura abandonada transmite uma ideia de deterioração, de desinteresse, de despreocupação. Faz quebrar os códigos de convivência, como de ausência de lei, de normas, de regras. Induz ao “vale-tudo”. Cada novo ataque que a viatura sofre reafirma e multiplica essa ideia, até que a escalada de atos cada vez piores, se torna incontrolável, desembocando numa violência irracional.
Baseados nessa experiência, foi desenvolvida a ‘Teoria das Janelas Partidas’, que conclui que o delito é maior nas zonas onde o descuido, a sujeira, a desordem e o maltrato são maiores. Se se parte um vidro de uma janela de um edifício e ninguém o repara, muito rapidamente estarão partidos todos os demais. Se uma comunidade exibe sinais de deterioração e isto parece não importar a ninguém, então ali se gerará o delito.
Se se cometem ‘pequenas faltas’ (estacionar em lugar proibido, exceder o limite de velocidade ou passar com o sinal vermelho) e as mesmas não são sancionadas, então começam as faltas maiores e delitos cada vez mais graves. Se se permitem atitudes violentas como algo normal no desenvolvimento das crianças, o padrão de desenvolvimento será de maior violência quando estas pessoas forem adultas.
Se os parques e outros espaços públicos deteriorados são progressivamente abandonados pela maioria das pessoas, estes mesmos espaços são progressivamente ocupados pelos delinquentes.
A Teoria das Janelas Partidas foi aplicada pela primeira vez em meados da década de 80 no metrô de Nova York, o qual se havia convertido no ponto mais perigoso da cidade. Começou-se por combater as pequenas transgressões: lixo jogado no chão das estações, alcoolismo entre o público, evasões ao pagamento de passagem, pequenos roubos e desordens. Os resultados foram evidentes. Começando pelo pequeno conseguiu-se fazer do metrô um lugar seguro.
Posteriormente, em 1994, Rudolph Giuliani, prefeito de Nova York, baseado na Teoria das Janelas Partidas e na experiência do metrô, impulsionou uma política de ‘Tolerância Zero’. A estratégia consistia em criar comunidades limpas e ordenadas, não permitindo transgressões à Lei e às norm as de convivência urbana. O resultado prático foi uma enorme redução de todos os índices criminais da cidade de Nova York.
A expressão ‘Tolerância Zero’ soa a uma espécie de solução autoritária e repressiva, mas o seu conceito principal é muito mais a prevenção e promoção de condições sociais de segurança. Não se trata de linchar o delinqüente, pois aos dos abusos de autoridade da polícia deve-se também aplicar-se a tolerância zero.
Não é tolerância zero em relação à pessoa que comete o delito, mas tolerância zero em relação ao próprio delito. Trata-se de criar comunidades limpas, ordenadas, respeitosas da lei e dos códigos básicos da convivência social humana.
Essa é uma teoria interessante e pode ser comprovada em nossa vida diária, seja em nosso bairro, na rua onde vivemos.
A tolerância zero colocou Nova York na lista das cidades seguras.
Esta teoria pode também explicar o que acontece aqui no Brasil com corrupção, impunidade, amoralidade, criminalidade, vandalismo, etc.
Então vamos debater algo sobre o que isso pode ter em relação ao BDSM?
Fonte em português: www.destruidordedogmas.com.br/teoria-das-janelas-partidas
Artigo original: www.manhattan-institute.org/pdf/_atlantic_monthly-broken_windows.pdf
Achei muito interessante o texto. Penso que as reações das duas diferentes comunidades em que as viaturas foram expostas, têm a ver com a miséria humana que cada um de nós carregamos durante a vida. Não parto para a velha máxima de que o meio faz o produto, ou nesse caso, o caráter de cada um. Mas creio, que em todos os assuntos relacionados a vida, seja no caso do artigo: o vandalismo, ou partindo para algo mais amplo, como a corrução, impunidade, amoralidade, criminalidade, desrespeito e etc, tem a ver sim, com a visão que cada pessoa tem de si mesmo, de seus valores e até mesmo de suas frustrações. Não estou dizendo que toda pessoa frustrada sai por aí, vandalizando e atuando como um louco inconsequente, mais a falta do conhecimento de si mesmo e de não saber lidar com suas frustrações do dia a dia, tornam pessoas pacatas e que aparentemente não seriam capazes de fazer atrocidades, pessoas extremamente perigosas. Quanto ao BDSM, creio, que muitas pessoas partem para o modo BDSM de vida, para sim aplacar algumas frustrações que nada tem a ver com a prática em si, é muito comum, encontrarmos pessoas que se dizem dominadores(as), mas que na realidade, não entendem nada do assunto, como é comum encontrarmos também submissas(os) que estão procurando algo menos BDSM. E isso, atrapalha e desanima aquelas pessoas que realmente estão a procura de algo sério.
Acho que a Teoria das janelas partidas, dentro do universo BDSM, estaria ligada ao fato que somos capazes sim de agir de acordo com os nossos mais profundos desejos e fantasias e assim estaríamos liberando algo dentro de nós, que até então, se não fosse de tal forma estimulado, jamais deixaríamos transparecer, ou seja, se o vidro não fosse partido. Um abraço, lady viana.